🩺 PÁGINA: TRATAMENTO DAS ANEMIAS

Versão Acadêmica Completa | ANEMIA.MED.BR | OSAME S³


1. Introdução

O tratamento da anemia exige abordagem etiológica, fisiopatológica e multidisciplinar. Não se trata de corrigir apenas um número laboratorial, mas de restaurar a capacidade oxigenação tecidual, corrigir déficits específicos e tratar comorbidades associadas. Esta página fornece um panorama clínico avançado das condutas mais atualizadas para cada tipo de anemia, com base nas melhores evidências internacionais e nas diretrizes da ABHH, ASH, BSH, EHA e OMS.


2. Princípios Gerais da Terapêutica

PrincípioAplicação Clínica
Tratar a causaCorrigir carência, cessar sangramento, tratar doença base
Restaurar a eritropoieseEstimular produção com EPO, corrigir cofatores
Corrigir anemia sintomática graveTransfusão conforme risco e quadro clínico
Evitar sobretratamentoAvaliar sempre risco-benefício (ex: ferro em inflamação)
Individualizar condutasIdoso, criança, gestante, paciente oncológico

3. Abordagens Específicas por Etiologia

3.1. Anemia Ferropriva

  • Correção oral: Sulfato ferroso, fumarato ou glicinato – 3-6 mg/kg/dia de ferro elementar

  • Correção parenteral: Carboximaltose férrica, sacarato férrico, hidróxido férrico III (em intolerância oral ou perdas crônicas)

  • Reavaliação: Ferritina >50–100 ng/mL e IST >20% após 3 meses

  • Não iniciar ferro sem diagnóstico claro (risco de sobrecarga em anemias crônicas ou talassemias)


3.2. Anemia Megaloblástica (B12 e Folato)

  • Vitamina B12:

    • VO: 1000–2000 mcg/dia

    • IM: 1000 mcg 1x/sem por 4–6 semanas, depois mensal

  • Ácido fólico:

    • VO: 1–5 mg/dia por no mínimo 3 meses

  • Avaliar causa da deficiência: alcoolismo, dieta, uso de metotrexato, doença celíaca, uso de omeprazol, anemia perniciosa


3.3. Anemia por Doença Crônica

  • Tratar a doença base

  • Evitar ferro se ferritina >100–200 ng/mL com PCR elevada

  • Uso de EPO (eritropoetina):

    • Casos selecionados (IRC, câncer, doenças inflamatórias crônicas)

    • Avaliar níveis de EPO endógena e necessidades transfusionais


3.4. Anemia Aplásica e Mielodisplasias

  • Imunossupressores: Antitímico + ciclosporina

  • TMO (Transplante Medula Óssea): casos graves <40 anos

  • Suporte transfusional: criteriosamente

  • Quelantes de ferro: deferasirox ou deferoxamina se ferritina >1000 ng/mL


3.5. Hemoglobinopatias

  • Anemia falciforme:

    • Hidroxiureia (HbF↑)

    • Transfusão episódica ou programada

    • TMO nos casos graves

    • Suplementação com ácido fólico

  • Talassemias:

    • Transfusões regulares (dependentes)

    • Quelantes de ferro

    • Terapias gênicas (em estudo / uso restrito)


3.6. Anemias Hemolíticas

  • Imunomediadas (AIHA):

    • Corticoide 1–2 mg/kg/dia

    • Rituximabe ou esplenectomia se refratária

  • Enzimopatias:

    • G6PD: evitar fármacos oxidantes

    • Piruvato quinase: estudos com Mitapivat

  • Esferocitose:

    • Esplenectomia em casos refratários ou graves

    • Vacinação e antibioticoterapia profilática


4. Papel das Transfusões

  • Indicações absolutas: Hb <7–8 g/dL com sintomas ou comorbidades (IAM, ICC, AVC)

  • Tipo ideal: CH filtrado, fenotipado (se aloimunização)

  • Avaliar risco x benefício

  • SAMEANEMIA + PBMSIA devem ser consultados para decisões complexas


5. Quelantes de Ferro

FármacoIndicaçãoViaPrincipais efeitos
DeferasiroxPolitransfundidos, talassemia, SMDVOTGI, creatinina ↑, hepática ↑
DeferoxaminaUrgência, criançasSC ou EVDor local, toxicidade ocular
DeferipronaTalassemia intermediáriaVONeutropenia, hepatotoxicidade

6. Terapias Emergentes

  • Luspatercepte: anemia MDS e β-talassemia

  • Mitapivat: deficiência de piruvato quinase

  • Roxadustat: anemia na DRC sem EPO

  • Terapia gênica (ex: Zynteglo): β-talassemia – uso aprovado na Europa/EUA


7. Monitoramento e Seguimento

  • Hemograma seriado

  • Ferritina trimestral em politransfundidos

  • Função renal e hepática se uso de quelantes

  • Vigilância de aloimunização

  • Avaliação multidisciplinar conforme tipo de anemia


8. Checklist Terapêutico

✅ Definir etiologia antes de tratar
✅ Avaliar contraindicações e comorbidades
✅ Monitorar resposta clínica e laboratorial
✅ Educar o paciente (adesão, dieta, medicamentos)
✅ Registrar no SAMEANEMIA todos os desfechos clínicos


9. Conclusão

O tratamento das anemias é multidimensional, progressivo e individualizado. Não existe abordagem única para todos os pacientes. A utilização de ferramentas avançadas como o SAMEANEMIA e o PBMSIA, aliados ao conhecimento técnico e ao raciocínio clínico profundo, garantem condutas eficazes, seguras e humanizadas.